(Para) além do livro: a narrativa transmídia

Quando comecei a trabalhar com literatura infantil e a estudá-la, não imaginava que, um dia, estaria contemplando propostas criadas para além do papel. Talvez porque uma das primeiras preocupações dos críticos, educadores e mediadores seja a relação da criança com o objeto. Mas, durante minha trajetória, acabei encontrando algumas pessoas que se aventuram a analisar, criticar e pensar o livro infantil digital.

O segundo passo foi olhar para a relação do papel e do digital; do livro e de outras mídias. Ao analisar o mundo atual, pode-se notar que mais do que nunca vivemos era da convergência. Oferecer diferentes formas de contar histórias é imprescindível. Assim, as narrativas crossmídia e transmídias começaram a ganhar mercado.

Mas, afinal, o que é essa tal transmídia? Este curto vídeo pode ajudar a explicar o conceito.

 

O termo foi utilizado pela primeira vez por Henry Jenkins em seu livro Cultura da Convergência, quando ele se refere à franquia Matrix, que exigiu um envolvimento maior do público com a história e os conteúdos espalhados por diversos canais para entender o “complexo universo ficcional”, ou seja, uma produção intencional transmidiática deve apresentar um conteúdo contínuo e profundo, sem fazer muitas repetições entre as mídias, e é necessário que o público seja participante ativo na criação de sentido.

As histórias, que antes iam apenas do papel para as telas, agora ganham outra versão em game; outro ponto de vista em histórias em quadrinhos etc. A chave para a literatura transmídia (infantil ou não) é a experiência, independentemente do suporte. Para uma narrativa transmídia conquistar, ela deve ser contada por palavras, imagens estáticas e em movimento, com e sem interação, permitindo que o “leitor” crie mundos particulares e coletivos. Os leitores participam da história, tornando-se um personagem ou, simplesmente, montando esse quebra-cabeças em que cada peça é uma mídia e, juntas, apresentam uma única e complexa narrativa.

As pessoas mais tradicionais podem ficar preocupadas com o papel do livro ou da literatura. No entanto, o livro está muitas vezes presente, seja ele impresso ou no formato de e-book. O restante é uma sequência narrativa e imaginativa. Trata-se de um jogo espontâneo e participativo (sim, sem participação e engajamento não há transmídia). A narrativa transmídia possibilita que a criança se torne um leitor-espectador-jogador, que reflete, participa e analisa/critica. Entretanto, como o foco é a narrativa, esse processo se dá por meio de uma aprendizagem relativamente natural, que pode ser potencializada pela atuação de mediadores adultos.